Companheiros
Pela mão da nossa amiga e leitora Albertina Granja, recebemos esta noticia de mais um Monumento aos ex-combatentes mortos no Ultramar, desta vez na sua terra natal, Olhão.
Esta publicação é peculiar, pois integra a Memória Descritiva, que deu origem ao Monumento, feita pelo seu autor, Arquitecto Miguel Caetano.
Juntamos a foto do Monumento e também do autor, além da carta recebida da Albertina.
À Albertina o nosso agradecimento, não só por esta noticia mas também pelo seu constante interesse por tudo o que se passa neste blog. Muito obrigado.
“Olá boa noite....
A propósito do último artigo
publicado no blog do BART1914 (referente a mais um monumento aos ex
combatentes), em anexo remeto uma foto de "MAIS UM"... , este
construído na cidade de Olhão e recentemente inaugurado.
É da autoria de um grande amigo,
Miguel Caetano, um Jovem Arquitecto (que não é Olhanense, mas Portimonense
residente em Faro e com uma particularidade: É um apaixonado pela cidade do
Porto, onde fez o seu curso e viveu vários anos....
Além da foto do monumento em apreço,
envio também o texto escrito pelo seu autor (Miguel Caetano), em jeito de
"Memória Descritiva"... e ainda uma foto do mesmo, no momento em que
foi homenageado pela Liga dos Combatentes de Olhão.
Se achar que algum interesse tem
para o blog do BART1914, faça o favor de utilizar (tudo ou em parte..., é como
quiser e achar melhor...).
Albertina Granja”
TRIBUTO AOS COMBATENTES DA GUERRA DO
ULTRAMAR 1961-1974
MEMÓRIA DESCRITIVA:
Guerra portuguesa,
guerra do Ultramar,
guerra colonial,
guerra de África,
guerra da libertação,
…guerra.
Qualquer objecto, qualquer que seja a sua forma, tamanho ou aparência, dificilmente transmitirá a coragem, o valor e o sofrimento dos que pela Pátria partiram e que por ela combateram a milhares de quilómetros da sua terra natal.
A esses Heróis dedico esta peça.
É impossível compreender na sua totalidade a dimensão das marcas deixadas à passagem por tão extremo episódio.
Conhecer quem a viveu, ouvir as histórias, perceber os medos e conviver com alguns dos traumas, permite que se tenha uma leve noção dessa realidade.
Na peça que ora se apresenta, materializada no “Tributo aos combatentes da Guerra do Ultramar, 1961-1974”, pretende-se invocar um sentimento superior, desde logo evitando uma representação figurativa da guerra, mas antes enaltecer o sagrado, o intenso, os valores nacionais, a homenagem sentida aos que pela pátria tombaram e aos que sobreviveram à guerra.
Quanto à forma global, uma primeira leitura rapidamente desvenda a carga simbólica, que se quis simples e de comunicação imediata.
O conjunto define um percurso, uma via de saída do mundo profano que ao ser percorrido vê aumentar a intensidade da carga simbólica.
Salvaguardando as óbvias diferenças e, numa abordagem simplista, poder-se-á inclusivamente comparar ao percurso interior numa catedral que, para chegar a um altar, somos obrigados à transposição da Nave.
A base branca, que isola o conjunto na sua relação com o espaço envolvente, cria uma barreira sensorial conseguida através das diferenças de textura entre aquela e o restante pavimento que lhe está adjacente. O ligeiro rampear da base visa reforçar o destaque do conjunto, indicando ao observador que estamos no domínio do simbólico, gravando também no chão sob o “pórtico” o período temporal da guerra.
À passagem pelo “pórtico” constituído pelos dois elementos verticais, quais asas onde repousam os nomes dos combatentes, indica-se os nomes daqueles de Olhão que tombaram em África. À direita a dedicatória e as armas da cidade encimados pelo símbolo da Liga dos Combatentes – Núcleo de Olhão.
Seguidamente destacam-se três elementos em pedra, pousados sobre a base, como que urnas homenageando todos os que tombaram ao serviço da nação nas três ex-colónias palcos de batalha, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
A esfera armilar, representação simbólica de Portugal, remata o conjunto como que a pairar, enquanto metáfora à ilusão de poder que se julgava deter sobre as ex-colónias e que depressa se apercebeu quão efémero era.
Um olhar afastado permite que se apreenda um conjunto, sem no entanto perder a noção de que esse conjunto é apenas o somatório do contributo de cada elemento individual, querendo por isso ilustrar o grupo, sem o qual nada seria possível.
Os materiais escolhidos visam reforçar as ideias já referidas, tentando materializar ideias como frieza, brutalidade, força, coragem, bem como a alusão à nobreza, à esperança e ao luto branco dos que ficaram.
Miguel Caetano
Este Monumento foi inaugurado no dia da cidade de Olhão, a 16 de Junho de 2013
(Oferta ao Núcleo Regional de Ohão em construção no Jardim da Urbanização Mariana Saias)
guerra do Ultramar,
guerra colonial,
guerra de África,
guerra da libertação,
…guerra.
Qualquer objecto, qualquer que seja a sua forma, tamanho ou aparência, dificilmente transmitirá a coragem, o valor e o sofrimento dos que pela Pátria partiram e que por ela combateram a milhares de quilómetros da sua terra natal.
A esses Heróis dedico esta peça.
É impossível compreender na sua totalidade a dimensão das marcas deixadas à passagem por tão extremo episódio.
Conhecer quem a viveu, ouvir as histórias, perceber os medos e conviver com alguns dos traumas, permite que se tenha uma leve noção dessa realidade.
Na peça que ora se apresenta, materializada no “Tributo aos combatentes da Guerra do Ultramar, 1961-1974”, pretende-se invocar um sentimento superior, desde logo evitando uma representação figurativa da guerra, mas antes enaltecer o sagrado, o intenso, os valores nacionais, a homenagem sentida aos que pela pátria tombaram e aos que sobreviveram à guerra.
Quanto à forma global, uma primeira leitura rapidamente desvenda a carga simbólica, que se quis simples e de comunicação imediata.
O conjunto define um percurso, uma via de saída do mundo profano que ao ser percorrido vê aumentar a intensidade da carga simbólica.
Salvaguardando as óbvias diferenças e, numa abordagem simplista, poder-se-á inclusivamente comparar ao percurso interior numa catedral que, para chegar a um altar, somos obrigados à transposição da Nave.
A base branca, que isola o conjunto na sua relação com o espaço envolvente, cria uma barreira sensorial conseguida através das diferenças de textura entre aquela e o restante pavimento que lhe está adjacente. O ligeiro rampear da base visa reforçar o destaque do conjunto, indicando ao observador que estamos no domínio do simbólico, gravando também no chão sob o “pórtico” o período temporal da guerra.
À passagem pelo “pórtico” constituído pelos dois elementos verticais, quais asas onde repousam os nomes dos combatentes, indica-se os nomes daqueles de Olhão que tombaram em África. À direita a dedicatória e as armas da cidade encimados pelo símbolo da Liga dos Combatentes – Núcleo de Olhão.
Seguidamente destacam-se três elementos em pedra, pousados sobre a base, como que urnas homenageando todos os que tombaram ao serviço da nação nas três ex-colónias palcos de batalha, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
A esfera armilar, representação simbólica de Portugal, remata o conjunto como que a pairar, enquanto metáfora à ilusão de poder que se julgava deter sobre as ex-colónias e que depressa se apercebeu quão efémero era.
Um olhar afastado permite que se apreenda um conjunto, sem no entanto perder a noção de que esse conjunto é apenas o somatório do contributo de cada elemento individual, querendo por isso ilustrar o grupo, sem o qual nada seria possível.
Os materiais escolhidos visam reforçar as ideias já referidas, tentando materializar ideias como frieza, brutalidade, força, coragem, bem como a alusão à nobreza, à esperança e ao luto branco dos que ficaram.
Miguel Caetano
Este Monumento foi inaugurado no dia da cidade de Olhão, a 16 de Junho de 2013
(Oferta ao Núcleo Regional de Ohão em construção no Jardim da Urbanização Mariana Saias)
Sem comentários:
Enviar um comentário
-