sábado, 31 de janeiro de 2009

O REENCONTRO EM GUILEDJE

Julgo que Guiledje (no sul da Guiné-Bissau) foi o “alcácer kibir” da guerra colonial portuguesa (1961-1974), como prova prática da eminência de a derrota militar dos portugueses estar à vista (na Guiné e, por efeito dominó, nas restantes colónias). E essa evidência terá contribuído decisivamente para que os oficiais de carreira, os de média e baixa patente, face ao autismo suicida do poder da ditadura, nos tenham mudado o regime. Neste sentido, de forma simbólica, poder-se-á dizer que foi o drama de Guiledje (onde, em guarnições sucessivas, centenas de militares portugueses serviram de mártires forçados à teimosia colonial em que Salazar cismou e Caetano prolongou, enquanto outras centenas de jovens guineenses, no “outro lado”, deram vidas e muitos esforços para concretizarem o sonho de Amílcar Cabral) que devolveu a democracia e a liberdade aos portugueses e acelerou o acesso à independência de vários estados africanos.

Entre 1 e 7 de Março, numa iniciativa guineense, vai realizar-se uma espécie de “reencontro” entre antigos militares portugueses e guineenses que vão regressar a Guiledje numa reconciliação, sem armas e com muito afecto, recordando e partilhando dores escondidas que acumularam nas memórias por aqueles que estiveram nos dois lados daquela barricada absurda que dividia o que sempre devia estar unido. Nota: O “Correio da Manhã” de hoje dedica um apontamento a esta iniciativa. Inclui um excerto deste meu post (datado de Abril de 2004) que dediquei à experiência das minhas passagens por Guiledje quando esta praça militar ainda era um ponto de presença, sujeito a permanente flagelação pelo PAIGC, da soberania colonial portuguesa com as unhas agarradas ao chão guineense. Imagem: Guineenses independentistas manifestam-se exigindo a extinção da polícia política portuguesa (PIDE/DGS) que prendeu, torturou e assassinou milhares de africanos desejosos de se libertarem do colonialismo. A PIDE/DGS era a face “mais suja” da opressão e repressão colonial. Era a ela que os militares portugueses entregavam os prisioneiros feitos em combate para o “tratamento adequado” a aplicar aos lutadores pela independência dos seus povos. In Blog de João Tunes

Zé Justo

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