quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Militares, ontem e hoje...

Com a devida vénia, transcrevo a seguir um artigo publicado no jornal Badaladas de Torres Vedras, pelo ex alferes miliciano de Infantaria da CART 1690, ANTONIO MARTINS MOREIRA, (hoje advogado). Esta Companhia fazia parte do nosso Batalhão, embora tenha sido enviada para outros locais diferentes do da CCS, como todos se lembram: Assistimos há dias, pelas estações de TV, ao regresso de um grupo de sessenta militares de uma missão no Afeganistão, no âmbito da NATO. Vinham sob o comando de um tenente coronel. Chegaram satisfeitos e felizes ao aeroporto militar de Figo Maduro, com a sensação do dever cumprido, tendo a recebe-los, com a visivel grande alegria, justificada, as respectivas familias e, certamente "alguma alta patente" do Exército. Relataram até à exaustãoo seu enorme sacrificio, no qual, durante os seis meses que durou a missão, até chegaram a sofrer uma emboscada do IN (Talibãs), que lhes causou dois feridos ligeiros! Estes militares, quando destacados para certas missões no estrangeiro, com maior ou menor risco, são sempre voluntários e ganham bem. Há cerca de um ano, com mandato das Nações Unidas, foi também destacado para a reconstrução do Libano, na sequencia de mais uma guerra com Israel, um contingente português de engenharia, composto por cento e vinte homens, comandado por um tenente coronel de engenharia. Na despedida e regresso, nestes e noutros sinilares, sempre o mesmo folclore em Figo Maduro, com generais e ministros a saudar e felicitar os nossos militares. Reconheço, o que aliás é público e notório, que as nossas Forças Armadas, em missões no estrangeiro (e também cá dentro) sempre se comportaram com elevado sentido de serviço público, com nobreza de carácter e galhardia, com um carinho especial para com a população que encontram nos vários teatros onde actuam, assim dignificando e elevando bem alto o bom nome e o prestigio do nosso país. Mas, para as centenas de milhares de veteranos da chamada Guerra Colonial ainda vivos, muitos deles a morrer à mingua pelas nossas aldeias mais recônditas, este aparato, esta encenação e este folclore constituem, em última análise, uma provocação, um insulto e uma humilhação gratuita. Ao contrário dos actuais expedicionários, os nossos Veteranos de guerra, salvo uma ou outra excepção, nunca foram voluntários para a guerra. Foram obrigados a combater contra os nossos irmãos africanos, que lutavam pela sua dignidade e independencia, e partiam com um saco cheio de nada, com "prés" de miséria, para teatros de operações totalmente adversos. Estes não se ofereceram, mas quando a Pátria os chamou, tudo largaram para a servir e apresentaram-se, aos magotes, vindos em autocarros ou em comboios para as portas de armas dos quarteis de incorporação, nas datas designadas. Para trás deixavam as familias, as enxadas, os campos, as fábricas, os escritórios e os bancos das universidades (os que iam para oficiais) e só voltavam passados cerca de três anos, sendo um de treino e dois de comissão. Naquele tempo, raramente se via uma alta patente nos embarques e desembarques. Um grupo de sessenta homens nunca era comandado por um tenente coronel que comandava um batalhão composto por cerca de oitocentos homens, sendo certo que para comandar sessenta homens bastava um alferes (e muitas vezes um 2º. Sargento ou um furriel) que, com frequencia comandava uma companhia, com cerca de cento e oitenta a duzentos efectivos. A pátria actualmente trata de forma condigna os seus militares, com uma atenção às vezes até excessiva e ridicula. Aos Veteranos da Guerra Colonial olha-os com desprezo, finge que não existem, como se constituissem um fardo que tarda a desaparecer, ao contrário dos paises civilizados, como os EUA, a França, a Inglaterra, a Bégica, que os tratam com respeito e a consideração adequados. Enfim, tempos diferentes e mentalidades diferentes a)- António Martins Moreira

1 comentário:

  1. Guedes
    Estiveste bem ao transcreveres este artigo. Foi pena que o autor, que saúdo com amizade e respeito, se tenha esquecido da "benesse" que vai de 75 euros a 150 euros, anuais, "para apoio" - quando reformados - aos antigos combatentes no ultramar. Ou seja aquilo que é oferecido aos ex-combatentes para "ajuda" em forma de prémio, traduz-se, para a grande maioria, em 21 centimos por dia.As bolinhas (pão) na minha zona custa cada uma 12 centimos. E não vendem meia bolinha. Bom comer mais que uma bolinha de manhã, também me parece um "exagero"

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