terça-feira, 23 de setembro de 2008

As mudanças na adolescencia - pelo Pica Sinos

Quartel da Trafaria............................... Estação de comboios de Belém
Este texto do Pica, completa os dois anteriores. AS MUDANÇAS NA ADOLESCÊNCIA (III) NO FIM DA ADOLESCÊNCIA PRONTO PARA A GUERRA Com a recruta concluída, colocado no Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, na cidade de Leiria, é-me ministrada a especialidade de escriturário. Para fazer face às despesas com as viagens nos fins-de-semana a Lisboa, organizo excursões cujo lucro era o preço do trajecto na ida e volta. Na segunda-feira seguinte, no regresso ao quartel, comigo transportava o avio da família; um naco de queijo, chouriço e umas latas de conserva: com sardinhas, com atum ou com pasta de carne, que a D. Georgina, minha mãe, não se esquecia, servindo de reforço às más refeições que era sujeito no aquartelamento. A muito custo, com o apoio do serviço social do bairro onde morava, o Bairro da Quinta das Furnas, meu pai é pela segunda vez internado na Casa de Saúde do Telhal. A família não teve outra alternativa. A preocupação com a evolução da doença é muita, a situação complicava-se nos dias que sucediam. Minha mãe, praticamente sozinha, enfrentava toda a problemática da loucura que assolava o meu pai já “queimado” pelo o abuso álcool. Quando em 16 de Setembro, já inaugurada a Ponte que liga Lisboa a Almada (Ponte Salazar, mais tarde 25 de Abril), sou colocado no Batalhão de Reconhecimento de Transmissões, na Trafaria (já desactivado), para tirar a especialidade de Cripto (especialidade esta que ainda hoje consiste na aplicação das técnicas que visam a transformação da escrita legível para ilegível, manual ou em termos mecânicos), as coisas começaram a serem melhores. Podia ver com mais frequência a “miúda” e os meus amigos, na medida em que só ficava no quartel quando em serviço. Naquele pequeno barco de madeira, que partia às 07,30 horas de Belém rumo à Trafaria, como era bonito de ver o “rasgar” das águas e o resplendor das madrugadas. Como era bonito ver o nevoeiro “rastejar” naquelas águas limpas do meu rio Tejo. Claro alguns de nós, depois da noite “agitada”, fazia a viagem a dormir. O dinheiro para pagamento da viagem era trocado pelo bilhete e colocado na boina que tapava a cara. Dado com pronto e colocado no Quartel-general (QG) da Região Militar, em Lisboa, em de Março de 1967, entre três cabos e dois sargentos, das muitas mensagens decifradas, quis o destino que fosse eu a decifrar as mensagens: uma, que ditava a minha mobilização para a Guiné e outra, dando nota da morte de dois soldados, por acidente de arma de fogo, no estágio das manobras do aperfeiçoamento militar da Companhia de Comandos e Serviços do Bart 1914, que viria a integrar. Não me apanhou de surpresa a mobilização! A situação era mais que previsível para os jovens militares da minha idade. Na verdade, sendo a incorporação militar obrigatória, só não eram mobilizados para a guerra os jovens incapacitados fisicamente. Já com o “carimbo” de mobilizado, após um curto período de férias com os meus mais chegados, despeço-me do meu pai com um abraço e um beijo, sabendo ambos que já não tínhamos a oportunidade de nos tornarmos a abraçar. Pica Sinos Com a devina vénia Imagem Google – unexpected-art.com

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