terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A mulher do Silva, O Silva e o Alberto ...

Foto da loja do Silva

Nas minhas crónicas, já uma ou duas vezes falei do “Branco”, ou seja O Silva. Da tasca do Branco, Mas…. Na “Tasca” não trabalhava apenas o patrão, Silva. Também a sua mulher e o Alberto, seu empregado e um nativo (*) completavam o quadro de pessoal da loja.
O sector (região) de Tite, era à época, considerado um dos mais importantes celeiros da “província”, não só era uma região rica no cultivo do arroz e amendoim (menos), mas também na plantação e apanha da castanha de caju e da manga (entre outros produtos). A loja que descrevo, não era mais nem menos que um entreposto da recepção destes produtos que os naturais cultivavam nas suas terras, dos frutos que plantavam e que colhiam no mato.
A loja fazia excelente “negócio”, não só pela quantidade, mas sobretudo pela qualidade. Pagando (claro) a baixo preço ou fazendo troca, por produtos (com percentagem de comercialização elevada), de bens necessários e essenciais à subsistência das famílias dos naturais. Todos sabíamos, mas pouco ou nada podíamos fazer.
Com a “tropa”, o negócio era outro, mas também deveras rentável, não só lhe defendíamos as “costas” mas também a garantia do escoamento da cerveja e acompanhantes, tais como queijo, presunto e outros produtos de fazer “saltar” o colesterol.
Mas…. Porque íamos à Loja do Branco? Íamos fundamentalmente por quatro razões: Pela cerveja era bem mais fresca, pelos produtos que no quartel “népia”, pelo crédito, em cima de crédito, mas sobretudo pela branca – a Mulher do Silva.
A Senhora era boa como “milho”. Ligeiramente alta, de atributos bem consideráveis, era impossível não rodar a cabeça quando por ela cruzávamos, simpática no sorriso e no olhar….., educada no trato. Era a única branca até Bissau e arredores.
Qual “Merche Romero” ou “Cláudia Vieira”. E era vê-los, alguns Alferes, Furriéis, Cabos e demais, todos aperaltados aos domingos e não só. Esgotava-se as mesas e as cadeiras na tasca. Todos derretidos quando da oportunidade de falar com a senhora. Justificavam que iam beber cerveja fresquinha, era bem verdade, o calor era muito, fora e dentro da tasca…depois já no quartel, nos quartos ou nas casas de banho, todo o mundo sonhava com a senhora...
Mas não pensem que a senhora (ajudem, alguém se deve lembrar do nome) não “sonhava” também com o seu “príncipe encantado”, sobretudo quando o “patrão” saía para Bissau para descarregar os produtos comprados ou abastecer-se. Era nessas ocasiões que ela melhor se apresentava e o sorriso era bem mais rasgado.
O Alberto, seu empregado, seu grande amigo, era quem lhe valia e defendia dos maus-tratos que o Silva lhe infligia. Tempos depois já em Lisboa, o Alberto, num encontro fortuito que com ele tive, confidenciou-me que tinha abandonado a loja dois ou três anos depois de nós sairmos de Tite. A branca também!

Raul Pica Sinos

(*) Este nativo (eu para nomes sou uma maravilha) valeu-me em muitas ocasiões. A minha muito querida mãe, (que descanse em paz), quando do meu embarque, encheu duas malas de camisolas interiores e outra roupagem típica do Inverno. Foi o que valeu muitas vezes para matar a fome. O Tal nativo, também atendia ao balcão na tasca do branco, trocou comigo muitos “nhecos” (galinhas pequenas) até a roupa se esgotar. Depois o desenrascanso foi bem mais difícil.
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notyet disse...
Isto vai completamente de velas desfraldadas e para quem fazia caretas ao uso desta ferramenta, está óptimo.Fica um abraço

biabisa disse...
Com que então a mulher era boazona ! Enchia-lhes as vistas. Faço ideia, só faço ideia do que por lá se passava. Tinha gostado de ser mosquito nessa altura para observar tanto malandreco.

2 comentários:

  1. Isto vai completamente de velas desfraldadas e para quem fazia caretas ao uso desta ferramenta, está óptimo.
    Fica um abraço

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  2. Com que então a mulher era boazona ! Enchia-lhes as vistas. Faço ideia, só faço ideia do que por lá se passava. Tinha gostado de ser mosquito nessa altura para observar tanto malandreco.

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