QUEM SE PODERÁ ESQUECER DO SEU ASSOBIO A PEDIDO E DO SILENCIO
QUE PAIRAVA PARA O ESCUTAR AQUANDO NOS ALMOÇOS DE CONFRATERNIZAÇÃO ANUAIS
Naquele tempo, lá longe, ninguém o conhecia por Eduardo da Silva
Pinto, mas se perguntassem por anda o “Pintassilgo”, a resposta não se fazia
esperar… está na padaria.
O “Pintassilgo” era um rapaz pequeno e franzino, com os ombros
atirados para a frente. O seu andar era miudinho, rápido na fala. Andava quase
sempre “pintado” de branco.
Todos o estimavam. Era um homem
divertido, alegre, amigo do seu amigo. Passava os dias a assobiar, (primorosamente
diga-se), e a amassar o pão. Era um dos padeiros em Tite.
Este nosso amigo deixou-nos no
passado dia 6 de Janeiro do ano de 2020, mas a sua memória perdoará por todos
os seus camaradas que com ele partilharam a amargura da guerra colonial na Guiné
Bissau.
Quem não se lembrará da graça que ele irradiava quando encostado na
ombreira da porta da padaria o nosso “Pintassilgo” assobiava (entre outras) a melodia
da Rosinha dos Limões?
"Quando ela passa, franzina e cheia de graça,
Há sempre um ar de chalaça, no seu olhar feiticeiro.
Lá vai catita, cada dia mais bonita,
E a sorrir, p'rá rua inteira, vai
semeando ilusões."
O assobio que saía dos lábios
quase fechados da boca do “Pintassilgo” era uma maravilha, Hoje em dia já não
podemos ouvir, mas as recordações ficam:
Quem não se lembrará, nas
madrugadas bem cedo, do cheiro que pairava no quartel a pãozinho cozido no
forno manipulado pelo camarada “Pintassilgo” (e outros) que saía da pequena
padaria?
Quando possível o nosso camarada
era premiado a dar-nos um pãozinho escondido por troca de uma fatia de presunto
ou duas ou três rodelas de chouriço. Parte de uma lata de sardinha ou de atum
“exportadas” do continente por via dos familiares ou alguma madrinha de guerra
que no tempo nos chegava.
Mas via-o triste quando me dizia
…Oh Pica… isto hoje está difícil de te dar um pão. Hoje não dá para uma “palmadinha”,
desculpa lá. Eu sabia que era complicado e podia haver problemas. Não era
fácil, o pão era feito com conta e medida. Dar pão a todos os que pediam era
missão quase impossível.
Quem se poderá esquecer de quanto contente se apresentava aos
camaradas nos almoços de confraternização anuais. Quem se poderá esquecer do
seu assobio a pedido e do silêncio que pairava para o escutar.
Descansa em paz camarada.
Raul Pica Sinos
Obrigada pelas palavras sobre o meu pai
ResponderEliminarObrigada pelas palavras dedicadas ao meu pai.
ResponderEliminarObrigado pela homenagem,e palavras ao MEU Irmão.
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